Você provavelmente já comprou uma peça de roupa para usar em uma ocasião específica como um casamento, uma formatura, um aniversário, mas e se essa ocasião fosse exclusivamente uma foto?
Parece sem sentido, não é? Porém, isso já é mais comum do que pensamos. Estamos tratando do assunto: roupas virtuais. Já ouviu falar? Esse é o tema da décima edição da CamiNews e não, não vamos falar das skins de videogames, rsrs
Essa tendência já está circulando há algum tempinho, sabia? Em 2019, a empresa holandesa The Fabricant leiloou uma das primeiras roupas 100% virtuais por USD $9.500. Tá passada?
A marca, que é especialista em vestes e avatares virtuais realizou uma pesquisa de mercado e constatou que 9% da população de países desenvolvidos compram roupas novas só para postar nas redes sociais. Se você pensou que essa moda tecnológica não iria emplacar e não teria mercado, já presta atenção no conteúdo abaixo para iniciar uma mudança de opinião.
Já é sabido que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e o estímulo ao consumo por impulso é forte nessa área. Toda a cadeia desse setor participa desse modelo, mas as fast fashion são as que mais estimulam a compra de peças com pouca durabilidade, lastreadas em modismos passageiros. Foi devido à elas que o discurso de moda sustentável ganhou cada vez mais visibilidade inclusive.
Ao mesmo tempo, o surgimento das mídias sociais incentivando a postagem de fotos constantemente abriu espaço para o aumento de pessoas mostrando o look do dia, aflorando esse desejo de compra fugaz. Parece que não, mas os debates sobre moda sustentável e descarte correto de resíduos têxteis ainda é uma discussão recente no mundo. Perceba que esse discurso não é para rever os parâmetros atuais de consumo, mas apenas criar uma nova demanda de compra que pode ter a desculpa de “pelo menos não gera lixo”.
Mas afinal, o que são as roupas digitais?
São peças inseridas digitalmente em uma fotografia. Você adquire uma roupa on-line e envia uma foto que será manipulada virtualmente através de efeitos e softwares de animação e então terá sua “roupa” inserida na imagem desejada, mas lembrando que ela existirá apenas na foto.
A linha entre físico e digital está cada vez mais tênue e o limite entre entre o virtual e material não importa tanto mais, vivemos um mix.
Um exemplo disso são os filtros de Instagram, pessoas que antes não tinham conhecimento e contato com a realidade aumentada (VA), possuem agora fácil acesso e de uma maneira que está presente no dia a dia.
O mercado e-commerce cresceu muito e a tendência é que cresça ainda. Dessa maneira, a moda digital vai deixar de ser um movimento pouco convencional e se transformar em uma estratégia importante para atrair o desejo do consumidor por novidades conscientes.
Chega de enrolação e vamos aos cases para vermos o assunto na prática.
01. The Fabricant
Um dos nomes mais poderosos no mundo fashion digital é o do estúdio holandês The Fabricant, no mercado há quatro anos. Seu site oferece modelos criativos e extravagantes inspirados em games e personagens — três peças que foram inspiradas no visual de Pabllo Vittar esgotaram rapidamente — e seus estilistas assinam o primeiro vestido digital de “alta costura”, como mencionado acima e autenticado com o selo NFT (non fungible token, em inglês), que torna a peça única e rastreável.
A The Fabricant contribuiu para o ímpeto digital quando sua co-fundadora e diretora de criação, Amber-Jae Slooten, fez as indústrias de moda e tecnologia tomarem conhecimento da DEEP Faster Fashion. Usando algoritmos de inteligência artificial, o experimento criativo viu a primeira coleção de moda colaborativamente projetada do mundo entre um humano e um não-humano. A coleção digital surreal resultante foi exibida em grandes feiras de moda em toda a Europa.
02. Studio Acci
O Studio Acci nasceu focado no mercado brasileiro e na evolução do assunto na indústria de moda local. O objetivo é o desenvolvimento de peças em 3D com um software especializado. “Criar a modelagem em 3D faz com que se desperdice muito menos tecido e dinheiro, já que as alterações são feitas no computador e não precisamos pilotar várias peças até chegar no resultado final”, diz Letícia Acciarito, dona da marca. A designer explica que há duas formas de trabalhar com essa tecnologia: ou ela recebe a peça pronta e a cria ou a aperfeiçoa no computador ou ela recebe os croquis e ‘pilota’ o item 100% digitalmente.
Em um ano, a empresa afirma ter realizado projetos para cerca de 50 clientes, com apoio de duas dezenas de designers e artistas digitais freelancers.
Os trabalhos variam desde colaborações pontuais para estudantes (o Studio Acci recriou digitalmente roupas dos séculos 18 e 19 para o projeto de uma mestranda de moda da USP) até campanhas publicitárias, como uma desenvolvida para uma coleção-cápsula da Cartel 011 em parceria com a D-Aura.
03. Another Place
Another Place é uma marca de roupas que, no meio de um bloqueio criativo do diretor, entrou no mundo das possibilidades digitais e em 2021 realizou seu primeiro desfile totalmente virtual. Toda coleção, bem como o cenários e os modelos foram modelados digitalmente.
As roupas também ganharam uma versão IRL (in real life), com produção sob demanda. Em outras palavras, tudo que foi visto na tela do computador ou celular tiveram a oportunidade de se tornar realidade após a compra. “Foi a maneira que encontramos para reduzir desperdícios e minimizar os riscos dos profissionais envolvidos no processo de confecção”, diz Nascimento, diretor criativo da marca.
A apresentação contou com um desfile fragmentado transmitido via Reels no perfil marca, assim os consumidores passaram por uma experiência nova, onde puderam escolher o que ver durante a apresentação.
Meu pitaco:
Eu já venho acompanhando esse assunto há algum tempo. Acho fascinante? Acho. Acho uma loucura? Acho também. Porém, depois que percebi como nós absorvemos os filtros das mídias sociais com tanta facilidade, passei a pensar que roupa virtual não é nada distante. A diferença é que como tudo no Capitalismo, ela será paga porque terá um profissional criativo por trás assim como nas peças físicas que compramos. O que me intriga, na verdade, é como isso irá evoluir no Brasil.
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