Edição 28 – Refugiados climáticos: questão política e de mercado

As mudanças climáticas são a crise do nosso tempo e, para as pessoas em situação de vulnerabilidade, o impacto é desigual em comparação com o restante da população do planeta. Pessoas deslocadas ou migrantes do clima estão entre as que mais precisam de proteção quando o assunto é este. 

Como uma consequência direta do rápido aquecimento global, as condições meteorológicas extremas: chuvas fortes, secas, ondas de calor e tempestades tropicais estão se tornando mais imprevisíveis, intensas e frequentes. Além disso, elas aumentam o risco de novos perigos, como inundações, deslizamentos de terra, erosão, incêndios florestais e desertificação. Ao mesmo tempo, o aumento do nível do mar está trazendo inundações permanentes em áreas baixas.

Comunidades vulneráveis já sentem o impacto da mudança climática na comida, água, terra e em outros recursos necessários para a saúde humana, meios de subsistência e sobrevivência. Minorias como: mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e povos indígenas estão sendo afetados desproporcionalmente.

Em ambientes instáveis e afetados por conflitos, a resistência às mudanças climáticas, degradação ambiental e deslocamento costuma ser menor. Além disso, o impacto ao meio ambiente pode intensificar as dinâmicas de conflitos e influenciar outras tensões locais.

Como exemplo disso, as oito piores crises alimentares de 2019 estão associadas com choques climáticos e conflitos. De acordo com a ACNUR (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), sem uma ação climática audaciosa e uma redução dos riscos de tragédias ambientais, desastres relacionados ao clima podem dobrar o número de pessoas necessitando de ajuda humanitária para mais de 200 milhões a cada ano até 2050.

Na CamiNews deste mês, quero abordar justamente um dos principais impactos das mudanças climáticas: as migrações ambientais. Segundo o Relatório Mundial sobre Deslocamento Interno, as catástrofes naturais causaram cerca de 32,6 milhões de deslocamentos entre países em 2022 (número maior do que os deslocamentos devido a conflitos armados).

01. Enchentes do Paquistão
Liderando o ranking de deslocamentos associados aos desastres naturais está o Paquistão, país localizado no sul da Ásia, onde faz fronteira com a Índia.
Devido às enchentes e deslizamentos de terra ocasionados pelas fortes chuvas no período de monções em junho de 2022, mais de 8,2 milhões de paquistaneses se tornaram refugiados climáticos.

02. Os tufões nas Filipinas
Com um clima completamente instável e imprevisível, as Filipinas é conhecida como uma das regiões mais afetadas por tufões no mundo. Em outubro de 2022, o tufão Nalgae afetou a região, fazendo com que 3 milhões de filipinos se deslocassem, tornando-se refugiados climáticos. Esse foi o maior número ocasionado por um único evento na região durante o período de um ano.

03. A migração interna na Nigéria
A Nigéria possui o maior número de migração interna devido aos desastres naturais ocorridos em 2022. Ao todo foram 2,4 milhões de nigerianos migrando para outras regiões do país por conta das grandes chuvas que geraram graves enchentes.

Eu poderia fazer uma lista enorme aqui de países que sofrem esse tipo de problema com as mudanças climáticas, afinal, a questão ambiental tem sido uma fonte de insegurança, principalmente aos países do Sul Global, onde os desequilíbrios ambientais têm o potencial de afetar níveis de subsistência.

A degradação ambiental diminui a disponibilidade de alimentos na medida em que as mudanças das chuvas e do clima impactam a produção agrícola. De acordo com o relatório elaborado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) a crise climática foi uma das principais causas do aumento da fome no mundo no ano de 2017, período em que 821 milhões de pessoas foram atingidas pela fome ou desnutrição.

Além disso, mudanças na temperatura dos mares e o aumento do potencial de destruição, afetam o acesso à água potável, assim como a poluição do ar causam ameaças à pele, como por exemplo, o desenvolvimento do câncer de pele.

Agora que introduzimos a questão política, vamos trazer três exemplos de como isso pode afetar dinâmicas de mercado:

01. A falta de cevada e lúpulo

É isso mesmo que você está lendo (rsrs)!! As mudanças climáticas estão ameaçando o abastecimento mundial de cerveja, de acordo com o CEO da Asahi, Atsushi Katsuki.

Katsuki diz que o aumento das temperaturas é prejudicial à produção global de cevada e lúpulo, o que pode levar a uma escassez de cerveja. Em entrevista ao Financial Times, o CEO declarou que as análises realizadas pela empresa indicam que o aquecimento global terá um impacto significativo na produção de cevada e na qualidade do lúpulo nas próximas três décadas.

“Embora seja possível que o consumo de cerveja aumente com o clima mais quente, tornando-se uma oportunidade para nós, as mudanças climáticas representam uma séria ameaça”, alertou Katsuki. “Existe o risco de não conseguirmos produzir cerveja suficiente.”

02. Bolsa exclusiva de crédito de carbono é nacional (e já vem com polêmicas)

Nomeada de B4, a plataforma promete hospedar títulos de crédito de carbono em tokens; ou seja, será possível acompanhar todas as transações envolvendo aquele ativo. O processo, segundo a empresa, evitará a duplicidade da venda de um mesmo crédito. E também diz que vai analisar todos os registros dos títulos antes de aprovar a entrada deles na plataforma.

A ideia é boa, mas já acumula uma série de críticas no mercado, principalmente pelo último ponto apontado anteriormente. 

Vendedoras e compradoras de crédito de carbono alegam que o processo de validação das certificadoras já é bastante confiável, dessa forma, não faria sentido a B4 querer analisar o registro dos títulos. Além do fato da empresa ter sido fundada por dois sócios que não possuem histórico em seu currículo de crédito de carbono e empresas ambientais.

Outro problema apontado é a possível criação de um mercado secundário de carbono a partir da plataforma. Nesse caso, os créditos não seriam comprados apenas por empresas interessadas em compensar a emissão de carbono na natureza. Mas também por investidores interessados em ganhar com a valorização desses títulos -a exemplo do que acontece com ações de empresas listadas em bolsas de valores.

03. Cidade flutuante nas Maldivas

Pois é! Com o risco de sumir do mapa, o governo das Maldivas começou a construção de uma cidade flutuante para 20.000 pessoas, que deve ficar pronta já em 2027.

O pequeno arquipélago que está localizado no Oceano Índico possui 80% do seu território abaixo do nível do mar, tendo seu ponto mais alto apenas 2 metros acima, ou seja, com o aumento do nível do mar, tudo pode sumir!

A nova cidade flutuante fica a 10 minutos da capital Malé e tem como objetivo atender à população desalojada pelas enchentes provocadas por chuvas cada vez mais intensas e pela elevação do nível das marés, duas consequências das mudanças climáticas.

Toda a cidade será capaz de se adaptar às mudanças nas marés, ficando portanto protegida de alagamentos.

Meu pitaco:

Quis trazer este tema para esta CamiNews porque apesar de ver matérias regularmente sobre as questões climáticas como um todo, ainda percebo pouca atenção às migrações climáticas. 

Em 2021, o Banco Mundial divulgou um relatório (Groundswell) com números estatísticos sobre os migrantes/refugiados climáticos. Segundo os dados, 216 milhões de pessoas em seis regiões do mundo, incluindo a América Latina, poderão ser forçadas a se mudarem de seus países até 2050 para fugirem de eventos climáticos adversos.

Por exemplo, tragédias como esta que aconteceu na região sul do Brasil com as inundações são consequências das mudanças climáticas, mas talvez o que as pessoas não pensem é que algumas regiões serão tão atacadas que as pessoas que lá moram terão de se mudar. E isso é a complexidade dos migrantes climáticos, seja dentro de um próprio país ou entre fronteiras. 

Recomendo demais a leitura desta matéria do G1 logo abaixo caso você não tenha tempo de ler tudo o que está sinalizado. Ela já oferece um panorama bacana sobre o tema. 

Dicas imperdíveis que você pode perder!

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