Edição 15 – Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na política!

Você sabia que a primeira eleitora brasileira (a professora Celina Guimarães) votou pela primeira em 1927? E que a primeira política eleita (a prefeita de Lajes, Alzira Soriano), assumiu o cargo em 1929? O que elas têm em comum? Ambas são naturais do Rio Grande do Norte, o estado pioneiro na inclusão das mulheres na política.Neste ano, serão mais de 77 milhões de brasileiras que devem votar nas Eleições. Esse grupo representa mais de 52% do eleitorado, segundo dados de abril.

No entanto, o direito de escolhermos os representantes no país nem sempre esteve presente: o voto feminino no Brasil só foi instituído há 90 anos, com o Código Eleitoral de 1932.

Atualmente, de acordo com a Agência Senado, somos 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados; no Senado, somos 13%. Nas assembleias estaduais, a mesma situação: apenas 161 mulheres foram eleitas, o que também representa uma média de 15% do total de postos.

O número de mulheres que se candidataram nas eleições deste ano é o maior das últimas três eleições gerais. A participação feminina, em porcentagem, também é maior em 2022 na comparação com 2018 e com 2014. Os dados constam no registro de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

E não só o número de candidatas aumentou, como também o de mulheres indígenas e mulheres negras. Nesta eleição, 18,13% das candidaturas femininas serão de mulheres autodeclaradas pretas e 0,88%, de mulheres autodeclaradas indígenas.

Mas, apesar do avanço, ainda temos um longo caminho a percorrer….

Segundo pesquisa divulgada pelo relatório “Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira”, produzido pela Oxfam Brasil e pelo Instituto Alziras, para que a quantidade de candidaturas de homens e de mulheres se iguale seriam necessários 144 anos. O documento analisa as eleições de 2016 e 2020 e foi lançado em julho de 2022.

Esse dado é uma consequência direta da falta de estrutura dos partidos para as candidaturas femininas. 
 

“As mulheres no Brasil não sofrem de uma baixa representação, mas sim uma exclusão na política. Enquanto a maioria dos países está discutindo equidade de gênero, nós ainda estamos lutando para a execução de cotas.”

                                                       Marlise Matos, professora da UFMG

Mais mulheres em espaço de poder, significa mais representatividade, e isso significa mais pluralidade social, e sabemos bem que essas questões não são de interesse de muitos dos que já ocupam esse espaço.

As chances de um futuro melhor

Apesar dos pesares, quero focar no lado positivo dos acontecimentos. Estamos conquistando o nosso espaço e aos poucos vamos chegar lá! 

E, aproveitando o número recorde de candidaturas femininas, quero também trazer exemplos de como algumas candidatas têm usado as redes sociais como ferramenta nessa eleição para impulsionar a visibilidade.

No Brasil, mais de 150 milhões de pessoas utilizam redes sociais, o que representa 70,3% da população. De acordo com dados de 2020 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 147.918.483 brasileiros estão aptos a votar. Ou seja, o número de usuários das redes sociais e de eleitores é praticamente o mesmo.

01. Isa Penna

Candidata a deputada federal por São Paulo, a deputada estadual Isa Penna lançou uma websérie nas redes sociais para fazer sua campanha, na tentativa de se destacar entre os mais de 1.500 candidatos à Câmara.

Com uma produção de 13 episódios de um minuto, o plano é tratar de temas como apadrinhamento político, partidos que adicionam mulheres em suas legendas sem darem suporte político a elas, assédio moral, nova família, entre outros. 

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02. Célia Xakriabá

Informar as pessoas que já não há mais tempo e que toda a humanidade precisa compreender que, hoje, a demarcação dos territórios indígenas é uma das soluções para a crise climática que atravessa o planeta. Essa é a missão de Célia Xakriabá e está exposta em todas as suas redes sociais. 

Para ela, utilizar as plataformas digitais para chamar atenção para as mudanças climáticas é atentar para o que ela considera fundamental: a ideia de que, sem a existência da população indígena, não haverá chance para a humanidade. 

Atualmente, Célia é uma das lideranças indígenas brasileiras mais reconhecidas internacionalmente por seu papel enquanto ativista protetora dos direitos indígenas e das terras destinadas aos povos originários. Professora e comunicadora, ela chegou a comandar o primeiro podcast indígena da plataforma de streaming Globoplay, o “Papo de Parente”.

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03.Carolina Iara

Atualmente, covereadora da Câmara Municipal de São Paulo, Carolina é mulher intersexo, travesti, negra e vive com HIV/aids. Mestranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC, pesquisa sobre empregabilidade de pessoas negras que vivem com HIV, além de ser escritora e poeta.

Em suas redes sociais, Carolina defende as bandeiras que carrega em seu corpo e conhece bem: saúde para pessoas LGBTs, principalmente trans e intersexo, combater a LGBTfobia e acesso à educação. 

“Como a gente faz para que as pessoas trans não sejam expulsas lá na educação básica? O que o município tem que fazer? Tem que ter equipes multidisciplinares nas escolas para atender essas crianças e adolescentes que são LGBTs, estão sendo perseguidas e vão sair da escola em breve, porque não vão aguentar. Não tem esse esforço político, não tem essa estrutura. Professor não tem essa estrutura nem treinamento para lidar, não tem equipe.”, aponta Carolina.

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Meu pitaco:

Apesar de parecer algo simples, a possibilidade de mulheres exercerem seu poder político por meio de voto é um direito recente na democracia brasileira. 90 anos parece piada, né? Como eu costumo dizer: Dá vontade de sentar no meio fio e chorar, rs. 

De qualquer forma, algumas linhas de pesquisa em Ciência Política nas universidades já apontam um maior interesse por esses temas pelo eleitorado brasileiro devido a facilitação do acesso a ele via mídias sociais. Conforme mencionamos acima, é possível achar candidatos que estão tentando suavizar o distanciamento entre o vocabulário mais complexo e técnico com a realidade das pessoas no dia a dia. Além disso, é possível já perceber um interesse de alguns candidatos em estabelecerem diálogo com o público mais jovem e, para isso, recorre-se a estratégias de narrativa e de apelo imagético que conversem com esse público. 

Isso tem progressivamente feito com que esteja cada vez mais complexo definir os rumos eleitorais por meio de pesquisas de opinião. Longe de essas pesquisas terem perdido o sentido, ou estarem defasadas, como muito apregoam – o que ocorre é que devido ao maior interesse dos eleitores pelo tema, existe uma maior flutuação de opiniões até o dia da votação. Para o regime democrático, isso é um excelente sinal já que denota preocupação com o voto na prática. 

Como o direito feminino de voto ainda é recente, que tal olharmos com atenção as mulheres que estão se candidatando esse ano? 

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