Edição 16 – Como Anda Sua Relação Com O Trabalho?

Você já se sentiu sobrecarregado no trabalho? 

Ou sentiu como se trabalho e vida pessoal se tornassem a mesma coisa? 

Já se sentiu, de alguma forma, insatisfeito com a sua vida profissional? 

Teve pensamentos de que poderia estar fazendo algo melhor e com mais significado? 

Muito provavelmente algum desses você já sentiu e, com toda certeza, você também não está sozinho. 

Esses são sentimentos que as pessoas enfrentam há gerações, mas com as mídias sociais (principalmente o TikTok, que “lançou essa tendência”), se tem falado muito mais sobre o tema. Muito mesmo!

Mas, vamos por partes, assim ficamos todos na mesma página:

01. Já pregaram a palavra do “quiet quitting” para você?

Muito provavelmente no último mês você leu algum texto ou viu algum vídeo sobre o termo “quiet quitting” (se não leu e nem viu, você está vivendo num mundo paralelo, sério!). Essa “tendência” que na verdade não é uma tendência, por isso as aspas, bombou nas redes e tudo o que vimos por dias foram relatos, textos, explicações, defesas, julgamentos, entre tantas outras coisas sobre o termo. 

Para termos uma contextualização, apesar do nome, o termo não tem nada a ver com demissão, mas sim, com o fato da pessoa fazer apenas o que está em seu escopo de trabalho. Nada a mais, nem a menos. Porém, é importante explicar de onde vem esse termo. 

A consultoria Gallup monitora o nível de satisfação dos empregados no mercado de trabalho norte-americano há décadas. E nesse processo, ela criou duas nomenclaturas para definir o humor desses trabalhadores: 

  1. O engajado 
  2. O não engajado 

O engajado é, naturalmente, aquela pessoa que vê sentido e valor no seu trabalho, assim como o não engajado comporta-se de maneira oposta nessa flecha. Porém, existe uma camada que não se identifica com nenhuma dessas características e a esse grupo deu-se o nome de “quiet quitters”. São as pessoas que nem amam, nem odeiam seus trabalhos e que fazem o que está na sua descrição para desempenhá-lo ao longo da semana. 

Veja o gráfico abaixo e perceba que o intervalo de tempo entre 2018 e 2022 foi o que apresentou uma leve curvatura a mais tanto para baixo, quanto para cima. Ela foi puxada pelo ano de 2021 em que houve muitos pedidos de demissão nos Estados Unidos, especialmente no campo da gerências, fruto da pandemia de Covid-19. Já no ano de 2022, a soma entre os engajados e não engajados, em termos percentuais, resulta em 49% da força de trabalho norte-americana. Consequentemente, estima-se que os “quiet quitters” sejam os 51% restantes. Sim, metade da população, rs. 

Porém, quando se olha o gráfico acima, percebe-se que não existe uma grande diferença comportamental ao longo do tempo.  Via de regra, esse grupo intermediário sempre foi significativo no mercado norte-americano. Acredita-se que o boom desse termo aconteceu porque as gerações mais jovens – pessoas até 35 anos – demonstraram neste monitoramento serem os mais insatisfeitos com seus trabalhos atuais. E quem são as pessoas que mais utilizam as mídias sociais? Bingo!

02. Conhece o lying flat?

A pandemia trouxe uma nova realidade para muitas pessoas, onde o ambiente de trabalho e de casa se tornaram o mesmo, o horário de trabalho praticamente deixou de existir e muita gente passou a viver para trabalhar, o que a longo prazo não faz bem, convenhamos.

Com muitas demissões, as pessoas que seguiram trabalhando ficaram ainda mais sobrecarregadas e após praticamente 2 anos, elas se viram presas a uma rotina insana, que para muitos não tinha significado e gerava uma grande insatisfação. Dessa forma, muitos questionamentos sobre propósito e como aproveitar a vida surgiram, o que nos trouxe ao lying flat.

O movimento começou com os jovens chineses que perceberam uma diminuição do mercado de trabalho devido a demissões em massa e o consequente aumento da carga horária de trabalho semanal para repor essas condições. O lock-down rígido imposto pelo governo chinês também gerou uma sensação de que não havia vida para além do trabalho. E muitos jovens começaram a questionar-se quais eram as prioridades que eles deveriam ter na vida. 

Em chinês, o termo chama-se “tang ping” e os registros são do ano de 2021. Isso vem como o início de uma ruptura na cultura chinesa que vangloria as muitas horas de trabalho. E, apesar do compromisso e respeito pela mesma, os jovens se veem em um momento da vida um tanto quanto sem perspectiva.

03. E assim, chegamos a Great Resignation

Muitos termos em inglês, para dizer quase a mesma coisa: todos estão cansados do modelo de trabalho atual.

Porém, isso sempre existiu, em todas as gerações, desde os baby boomers. Só que ao contrário do que acontece hoje, nunca foram grandemente propagados, uma vez que a internet e as mídias sociais são ferramentas relativamente novas.

A Great Resignation é o termo que exemplifica um grande número de pedidos de demissão de forma voluntária (nos EUA, Europa, Austrália, Brasil, entre outros), devido a insatisfação com o trabalho e também virou uma famosa hashtag no TikTok.

Segundo a HSM, essa insatisfação parte de 4 principais motivos: 1) cultura tóxica das companhias; 2) insegurança dentro da organização; 3) excesso de pressão; e 4) falta de reconhecimento profissional.

Para a psicóloga e especialista em psicanálise pela USP Ana Volpe, o movimento de demissão voluntária já vinha acontecendo antes da pandemia. “As novas gerações não estão mais interessadas em reconhecimento financeiro apenas, mas na realização pessoal e reconhecimento. O trabalho passou a ser visto como um dos aspectos da vida de alguém, e não como o todo”, diz.

Meu Pitaco:

A pandemia ainda é muito recente para haver uma análise robusta de mudança de comportamento que tenha base estatística e teórica que justifique esses movimentos, mas de fato não se pode negar que ela afetou drasticamente o comportamento das pessoas em relação ao trabalho. 

Ansiedade, depressão, burnout são temas que até pouco tempo não se ouvia com tanta frequência e atualmente estão sendo trabalhados pelo próprio LinkedIn Brasil, por exemplo. Não à toa os discursos de felicidade no trabalho estão crescendo assim como a adoção da semana de 4 dias úteis para permitir que o trabalhador tenha mais tempo para realizar tarefas que sejam para o seu lazer.

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Matéria: Great Resignation

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