Edição 17 – Anúncios everywhere

Provavelmente você já notou que em todas as plataformas digitais por onde passamos ou que acessamos têm anúncios, certo? E a tendência é que isso aumente ainda mais, uma vez que estamos passando por um crescimento na colocação de anúncios de produtos e/ou serviços nesses lugares para o aumento das receitas dessas empresas anunciantes.

Uma pesquisa realizada pela Magnite, uma das maiores plataformas de vendas de publicidade do mundo, revelou que 79% dos usuários que utilizam plataformas de streaming, por exemplo, aceitariam mudar de plano para utilizar um serviço com a presença de anúncios. Parece loucura, não parece? Porém, esses usuários topariam essa mudança em troca de uma redução do preço das mensalidades cobradas. 

Além disso, os entrevistados afirmaram que gostam de descobrir novos produtos a partir de anúncios. Prova disso é que 52% deles realizam alguma ação, como buscar online ou comprar o item anunciado, após a exposição.

Dessa forma, temos um cenário de duas vias: de um lado as plataformas estão vendendo espaço para um público potencialmente qualificado adicionando mais uma fonte de receita ao modelo de negócio e do outro existem as marcas que aproveitarão mais um canal para publicizar os produtos que vendem. 

Trouxe aqui três exemplos de como isso já está acontecendo (e se aprimorando) no mercado:

01. Instagram

Você percebeu que recentemente a plataforma passou a mostrar ainda mais anúncios? Pois é, isso é proposital! Essa mudança aconteceu após a Meta informar, em julho, a sua primeira queda na receita trimestral em dez anos.

Com isso, agora teremos anúncios em novas áreas do aplicativo, como por exemplo no “explorar”, para alcançar “as pessoas nos estágios iniciais de descoberta de novos conteúdos importantes para elas” e até no perfil de pessoas (quando este é aberto).

“Estamos começando a testar anúncios no feed para perfis públicos de adultos, que é a experiência de feed que as pessoas podem percorrer depois de visitar o perfil de outra conta e tocar em uma postagem” afirmou a empresa em seu blog.

Com o argumento de que a plataforma é um espaço que aproxima o consumidor das marcas, o Instagram busca inovar os formatos de anúncios e assim aumentar sua receita.

02. Netflix

Sabe aquele burburinho que estava rolando que teriam anúncios na Netflix? São verdadeiros! A empresa confirmou que a partir de 3 de novembro terá um novo plano, mais econômico e com anúncios. Abaixo, segue a explicação de como se dará esse novo produto.

Essa estratégia inaugura um novo momento para o mercado publicitário, oferecendo às empresas anunciantes mais uma opção de canal de veiculação de publicidade a partir da segmentação de audiência. A média de anúncios por hora será de 4 a 5 minutos, com cada um deles variando de 15 a 30 segundos, exibidos no início e durante os conteúdos. 

Segundo Marcia Byrne, Managing Director da IAS (empresa que trabalhará em conjunto com a Netflix para medir a visibilidade dos anúncios), as empresas estão com grande expectativa de estarem presentes nesse momento em que o streaming se apresenta como mais uma opção para os planos de mídia.

A empresa ainda afirma que “Para ajudar os anunciantes a alcançar o público certo, além de garantir que nossos anúncios sejam mais relevantes para os clientes, ofereceremos recursos de direcionamento por país e gênero (por exemplo, ação, drama, romance, ficção científica). Os anunciantes também poderão evitar que seus anúncios apareçam em conteúdos que não têm a ver com a marca (por exemplo, associados a cenas de sexo, nudez ou violência explícita).”

03.Uber

A Uber agora tem uma divisão interna voltada para a área de publicidade e a ideia inicial da empresa é iniciar a venda de espaços publicitários dentro do aplicativo de transporte e do Uber Eats, além de e-mails patrocinados e veículos da frota.

Uber Journey Ads é o que eles estão chamando de “uma forma envolvente das marcas se conectarem com os consumidores durante todo o processo da viagem”.

O objetivo do Journey Ads é mostrar anúncios considerando o local de destino do usuário, enquanto ele espera pelo motorista ou realiza o trajeto. Com isso, os passageiros fazem uma espécie de “jornada de compras” durante as corridas.

O objetivo dessa nova área é unir a estratégia publicitária aos negócios da Uber, que atualmente conecta um público de 122 milhões de usuários ativos mensais em suas plataformas.

04. Microsoft

Imagina só: pagar a licença de um sistema operacional e ele vir com… anúncios.

Essa é uma experiência que a Microsoft está estudando para um novo modelo de negócios: PCs de baixo custo alimentados por anúncios e assinaturas com o Windows 365 (versão cloud do sistema operacional).

 A ideia por trás desse novo produto é justamente baratear os PCs, permitindo que os usuários não necessitem comprar um dispositivo com a licença completa e hardware necessário para rodar o sistema operacional.

Assinatura ou versão com propaganda?

Futuramente, o Windows 365 para os consumidores pode chegar com uma versão gratuita com anúncios e outra paga “ad-free”, assim como Spotify, Deezer e YouTube fazem. Ou adotar o modelo da Netflix, oferecendo um plano mais barato e com anúncios. Este modelo “foge” do padrão da Microsoft, que permite o uso gratuito do seu sistema operacional — com um “Ativar o Windows” bem visível na sua tela.

Apesar de ouvirmos que todos estão (e nos sentirmos também) cansados de anúncios por todos os lados, o mercado caminha no sentido oposto ao da redução, pois há um gigantesco espaço de monetização que tem funcionado. 

Por exemplo, por mais que os usuários reclamem das recorrentes mudanças do Instagram e do seu algoritmo, mais de 90% consideram a plataforma a mais relevante, segundo pesquisa realizada pela Resultados Digitais. Essa é a rede preferida para gerar negócios, uma vez que insere o público dentro do fluxo que busca convertê-los em clientes e os anúncios ajudam nesse processo.

Os anúncios nas redes sociais já são a 4ª principal forma de descobrir uma nova marca, produto ou serviço no mundo – indicada por 27,6% dos usuários de internet. Publicidade na TV com 31,4% lidera essa lista, seguida por usar ferramentas de busca para 31,3% e recomendações de amigos e familiares para 28,6%.

Por um outro lado, com a publicidade nos streamings, mesmo tendo uma insatisfação inicial, como mostra a pesquisa realizada nos Estados Unidos pela The Harris Poll, onde 81% dos entrevistados se mostraram irritados com a frequência dos anúncios e 70% disse não ter interesse em comprar os produtos anunciados, ainda assim menos de um quarto dessas pessoas estavam dispostas a pagar a mais para ter um plano sem anúncios. Temos então uma dualidade aqui. 

Ainda não sabemos como será a aceitação dos anúncios no Netflix no Brasil, mas levando em consideração plataformas como Spotify e Youtube, que possuem os dois formatos (anúncio e assinatura), pode vir a ser um reflexo dessa pesquisa realizada nos EUA, onde o consumidor prefere pagar mais barato, mesmo que tenha que aturar os anúncios.

Meu pitaco:

Eu sou do time que prefere pagar para não ter anúncios há um bom tempo. Mas, acredito que esse comportamento se deve muito mais ao fato de eu já trabalhar com Marketing e conhecer muitas marcas do que necessariamente pela raiva que tenho dos anúncios em si. Devo confessar que publicidade bem feita ainda chama a minha atenção, seja em que plataforma for. 

Com isso, fico pensando se, futuramente, não haverá uma divisão nas empresas apenas pensando em publicidade para esses formatos de app/streaming. Afinal, isso já ocorre com as mídias já consolidadas.

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