Edição 25 – Inteligência Artificial e algumas notícias sobre isso

Não sei você, mas eu ando bem cansada desse papo de IA para cá, IA para lá sem uma linha editorial comprometida com o impacto no curto, médio e longo prazo do que está sendo pesquisado e implementado no mundo. A maioria dos textos que eu leio soam sempre apocalípticos e induzem a um pensamento como: “onde esse mundo vai parar?” Concorda? 

A utilização de inteligência artificial no nosso dia a dia não é nenhuma novidade, mas algo que está cada vez mais sendo decodificado para nós reles mortais. Por isso, você está percebendo que as matérias de jornais, revistas, na TV, nos portais digitais estão abordando esta temática recorrentemente. A nós especialistas em tendências é possível identificar que ela começa a ser tratada dentro de parâmetros cada vez mais técnicos e regulatórios. Além disso, percebe-se que os comitês de ética nacionais e globais estão cada vez mais atentos aos progressos nesta área por meio de discussões sobre até onde esse recurso deve ser utilizado para o tal do avanço tecnológico sem impactar negativamente nossos direitos ao anonimato, a liberdade, a nossa imagem, nossa voz, etc.

Nesta CamiNews, trouxe alguns exemplos de IA que me chamaram atenção ultimamente  para pensarmos juntos esse avanço e percebermos em que pé estão estas notícias aqui no Brasil e no mundo.

01. Campanha “Scrolling Therapy” – Cannes
Acabou de acontecer agora em junho/2023 a maior premiação global da publicidade: o Cannes Lions. E o projeto ganhador do prêmio máximo “Grand Prix” na categoria Farmácia/Pharma foi um case que utiliza IA. Ele se chama “Scrolling Therapy”, da agência Dentsu (escritórios Chicago | Buenos Aires | NYC) para a Eurofarma. O projeto é voltado para pacientes com Mal de Parkinson e usa reconhecimento facial e machine learning para estimular exercícios que ajudam a reduzir a perda de expressão facial, um dos efeitos da doença. Ou seja, uma execução que realmente ganha escala a partir da aplicação da IA e tem um impacto positivo na vida das pessoas.

Confira o vídeo disponível na seção “Dicas imperdíveis que você pode perder”

02. Copilot – Microsoft

Vamos falar das big techs? A gigante Microsoft anunciou no primeiro semestre deste ano uma nova ferramenta de IA, o Copilot. “Combinando o poder dos grandes modelos de linguagem (LLMs) com os dados nas aplicações Microsoft 365 para transformar as suas palavras na ferramenta de produtividade mais poderosa do planeta.”

Resumo? 

Com essa ferramenta, você poderá pedir para o Word rascunhar um texto para não ter que começar do zero. No Teams você poderá fazer resumos dos principais pontos de uma conversa — incluindo quem disse o quê e em que pontos as pessoas estão alinhadas e em quais discordam — e sugerir ações, em tempo real, durante uma reunião. O objetivo da Microsoft é permitir que as pessoas tenham mais tempo livre para dedicarem-se às tarefas criativas. Segundo eles: 

A Microsoft está numa posição privilegiada para poder oferecer uma IA pronta para as empresas com o Copilot System. O Copilot é mais do que o ChatGPT da OpenAI incorporado no Microsoft 365. Ele é um mecanismo de processamento que combina o poder dos LLMs com os apps do Microsoft 365 e os dados de negócios das organizações no Microsoft Graph, agora acessível a todos através de linguagem natural. 

Confira o vídeo disponível na seção “Dicas imperdíveis que você pode perder”

Mas sabemos que nem só de flores são feitas as tecnologias e antes de chegar em resultados como esses, acontecem experiências mal sucedidas, como os exemplos abaixo:

03. A ampliação da desigualdade com o uso da IA na seleção de currículos

Uma grande parcela da população já precisou usar alguma das várias plataformas de vagas de emprego que temos disponíveis no mercado e pode-se dizer que elas são uma das precursoras ao quererem usar a IA para facilitar o trabalho, afinal, são milhares de currículos para serem analisados todos os dias. 

As empresas afirmam que o processo é fiel e capaz de selecionar a melhor opção de candidato com agilidade, porém, especialistas em tecnologia destacam que máquinas podem não levar em consideração aspectos sociais durante essas seleções e, consequentemente, colocar mulheres, negros, pessoas mais velhas e outras minorias em posição de desvantagem.

O caso da Amazon pode servir de exemplo de como os algoritmos podem ser preconceituosos. Há alguns anos, a empresa precisou abandonar o próprio sistema experimental de recrutamento por inteligência artificial depois de descobrir que ele privilegiava homens em relação às mulheres que disputavam cargos.

Confira o vídeo disponível na seção “Dicas imperdíveis que você pode perder”

Se você quiser aprofundar neste tema, sugiro seguir o perfil no LinkedIn do Tarcízio Silva. Ele presta consultoria atualmente para a Mozilla e estuda há anos racismo algorítmico academicamente.  Deixarei link do livro dele no Dicas Imperdíveis.

04. Mortos retornam para contar seu fim:

Em matéria interessantíssima no UOL TAB, explica-se uma das novas tendências no TikTok: a utilização de IA generativa para fazer pessoas que tiveram mortes drásticas contarem sua própria morte. Além do extremo mau gosto e da baixa qualidade gráfica, esta matéria traz uma discussão ética. Até onde vai nosso direito sobre nossas imagens? Nossa voz? Parece cada vez mais importante pensar nessas fronteiras.

Meu pitaco:

Conforme escrevi acima, as discussões sobre IA são mais preocupantes no campo do imbricamento entre computação, ética e o campo jurídico do que apenas uma questão sobre software A ou B. Ainda vejo, no Brasil, esse assunto atrelado ao universo das pessoas que trabalham na área de tecnologia e bem menos nas demais áreas. Ainda vamos precisar de muitos juristas, antropólogos, sociólogos, médicos para travar os limites desta realidade do que apenas cientistas da computação e/ou engenheiros de software.

Dicas imperdíveis que você pode perder!

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