A Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino começou há praticamente 2 semanas e essa edição tem tudo para ser (inclusive já está sendo) uma das mais importantes da história.
Sediado em dois países, Austrália e Nova Zelândia, o mundial deste ano conta com uma série de incentivos inéditos para o futebol feminino e mostra como a categoria tem sim potencial de movimentar o mercado.
Apenas para contextualizar, a primeira Copa do Mundo Feminina aconteceu apenas em 1991, diferentemente da masculina que acontece desde 1930. Falando da realidade brasileira, durante os anos 1941 e 1979 as mulheres eram proibidas por lei de praticar o esporte no Brasil. É mole?
Ou seja, tudo relacionado a esse tema é recente e não só as marcas, mas a sociedade como um todo está começando a se atentar para a importância de dar a devida visibilidade e crédito a modalidade. Tanto é que o evento deste ano é o de maior público da história. Ele já contava com mais de 1 milhão de ingressos vendidos antecipadamente, além de ser o primeiro da história a ser televisionado em tv aberta.
Na CamiNews deste mês eu trouxe exemplos de algumas ações de incentivo que aconteceram e estão acontecendo durante essa Copa. Vem conferir!
01. Uniforme sob medida e voo fretado
Sabe aqueles ternos que os jogadores usam nas viagens para a Copa? Sim, aqueles em que eles aparecem saindo de um ônibus ao chegar no primeiro local de jogo? Você sabia que até o último torneio feminino, em 2019, as jogadoras usavam esse uniforme emprestado da seleção masculina? O que você acha disso?
[pausa dramática ?]
Esse ano, pela primeira vez na história, as atletas do Brasil têm um traje de viagem desenvolvido por uma marca feminina carioca, a Animale, algo nunca assegurado em edições passadas. A roupa social feita em alfaiataria tem a cor azul clara, um pedido feito pelas jogadoras, que foram parte importante no processo de criação.
Além disso, a seleção feminina viajou em um voo fretado para a Copa também pela primeira vez.
02. Ponto facultativo em dias de jogo da Seleção Brasileira
O ponto facultativo em dias de jogos é uma medida tradicionalmente adotada na Copa do Mundo masculina de futebol e esse ano o governo brasileiro decretou também para a Copa do Mundo feminina.
A previsão é que em dias de jogos que começam até 7h30, o expediente terá início às 11h. Nos dias de jogos iniciados às 8h, o expediente começará ao meio-dia.
03. Incentivo da Orange à seleção francesa
Para incentivar o apoio à seleção francesa na Copa do Mundo feminina, a Orange, principal empresa de telecomunicações da França e uma das patrocinadoras da equipe, criou um vídeo com grandes lances em campo e quem protagoniza as jogadas, num primeiro momento, são os jogadores da seleção masculina conforme o esperado. Porém, quem continua assistindo não espera um belo de um plot twist.
Clique aqui veja o vídeo
Em francês, o vídeo traz a seguinte legenda:
“Só existem os Bleus (apelido da seleção masculina) para nos proporcionar essas emoções. No entanto, não são eles que você acabou de ver. Na Orange, quando apoiamos os homens, apoiamos as mulheres.”
Resumo: pegaram jogadas do futebol feminino icônicas, mas à princípio trocaram os rostos das mulheres por rostos de jogadores. Do meio para o final do vídeo, eles mostram que, na verdade, são jogadas de futebol feminino revelando o rosto e corpo das jogadoras. Isso foi possível através do uso de inteligência artificial, que permite a troca de rosto de pessoas em vídeo, com a sincronização de movimentos do corpo e expressões da face.
Se você ainda não assistiu a esse vídeo, não hesite. Termine de ler a CamiNews e clica nele porque é muito bem pensado.
04. FIFA vende todas as cotas de patrocínio para a Copa do Mundo Feminina
Neste ano, o mundial feminino possui trinta marcas patrocinadoras, contra doze que estiveram em 2019, um crescimento de 150%.
“A Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023 deve ser o maior evento feminino independente da história, e é realmente incrível ver nossos fantásticos parceiros e apoiadores se envolverem com o potencial deste evento único”, disse o diretor de negócios da FIFA, Romy Gai.
Neste cenário, a Fifa detalhou como ficou o quadro de parcerias:
- 5 parceiros globais da Fifa
- 2 parceiros globais do Futebol Feminino
- 9 patrocinadores globais da Copa do Mundo Feminina
- 14 apoiadores da Copa do Mundo Feminina
Marcas como Adidas, Coca-Cola, Visa, Hyundai Motors, Kia, AB Inbev, Unilever, Booking.com, McDonald’s, Claro, Itaú, entre outras fazem parte desse quadro.
05. CazéTV
No dia 03/07 o streamer Casemiro Miguel anunciou que transmitiria os 64 jogos da Copa Feminina de Futebol no seu canal do Youtube, o CazéTV. Além da participação do próprio Casimiro e do narrador Luís Felipe Freitas, a dupla tem a companhia dos comentadores Fernanda Gentil e Guilherme Beltrão. Ao mesmo tempo, o canal no YouTube terá uma programação especial relacionada ao Mundial Feminino. Na madrugada da sexta (21/07/23), o jogo entre Nigéria e Canadá, foi assistido por 149 mil espectadores simultaneamente. Um recorde! Mas, nem só de números impactantes vive o canal.
Durante a partida entre Noruega e Nova Zelândia houve uma chuva de comentários machistas no chat do canal sobre o nível do futebol, as equipes em campo, fato que levou ao fechamento do chat para evitar que a situação escalasse. Ou seja, nada de novo quando o assunto é mulheres tendo reconhecimento sobre atividades que historicamente foram lideradas por homens.
06. Vamos falar de números?
Segundo matéria completa da ESPN, os números desta Copa são inéditos em comparação com os torneios femininos de 2019 e de 2015. Todavia, em comparação a Copa do Mundo do Catar esses números estão aquém do que deveria ser.
A Fifa vai pagar a maior premiação da história do torneio para as seleções participantes: US$ 110 milhões (cerca de R$ 527 milhões)
Desse montante, US$ 61 milhões (R$ 292 milhões) será distribuído entre as equipes, enquanto US$ 49 milhões (R$ 235 milhões) serão pagos diretamente às jogadoras individualmente, algo inédito até então.
Embora o valor total pareça alto, já que é três meses maior do que a premiação do Mundial feminino de 2019 e dez vezes maior do que o de 2015, nem se compara com o que foi desembolsado pela entidade na Copa do Mundo do Qatar em 2022. Na ocasião, a Fifa distribuiu US$ 440 milhões (aproximadamente R$ 2,11 bilhões), quase 35% mais do que a premiação do torneio feminino.
Meu pitaco:
Quando eu li que esta é a nona Copa do Mundo Feminina eu parei uns cinco segundos para respirar e pensei: nona? AINDA? Em 2023? Já sabemos que ser mulher em um mundo liderado por homens é isso. E aos poucos, cada área vai sofrendo alterações dentro do possível.
Não dá para saber exatamente porque esse ano resolveram aumentar o aporte de dinheiro/patrocínio na Copa do Mundo Feminina. Por mais que haja demanda reprimida, pressão de pactos globais de equidade de gênero, pressão da sociedade civil, esse foi um passo importante para a modalidade feminina de futebol.
Parece que está dando certo já que a repercussão global está alta. A próxima sede será definida em votação pública em 17/05/2024. Sabe quem está no páreo? Sim, o Brasil. Nós iremos disputar a sede com África do Sul, a união de Bélgica, Holanda e Alemanha e a união de Estados Unidos e México.
Dicas imperdíveis que você pode perder!
- O futebol feminino contra-ataca → série documental em 8 episódios do Facebook falando sobre futebol feminino infantil.
- CBF escuta jogadoras no uniforme sob medida → matéria da Forbes explicando melhor como foi o desenvolvimento do uniforme.
- Como ela faz? A equidade de gênero no mundo do trabalho → documentário disponível na plataforma GloboPlay que acompanhou a rotina de 12 mulheres brasileiras extraordinárias para mostrar como é ser mulher no quotidiano.
- Respeita as minas → aba de conteúdo exclusivamente sobre mulheres no esporte dentro da plataforma The Players’ Tribune Brasil.
- Joga igual mulher → Mini documentário disponível no Youtube sobre futebol feminino levando em conta diversas perspectivas.
- Quem concorre com o Brasil para sediar a Copa de 2027 → matéria do Globo Esporte.