Não é segredo para ninguém que vivemos em uma sociedade múltipla e que a pauta da diversidade já não é mais um assunto novo. Apesar de ter havido alguns avanços relacionados aos direitos das minorias nas últimas décadas, ainda há um longo caminho a percorrer para este assunto virar tema de museu, rs.
E por diversidade é claro que não estão em jogo questões relativas às frases chavões de “você é único” ou “só existe uma pessoa como você no mundo” mas as questões relativas aos preconceitos que algum tipo de marca corpórea pode gerar no outro. Eu costumo dizer: como pode o fato de uma pessoa com certa condição mental e/ou corporal existir irritar outras?
Projetos de lei e iniciativas sociais têm mostrado os pequenos avanços que tivemos nos últimos anos, além das mudanças no mercado, que já entendeu que essa é uma temática essencial por dois fatores: o social e o competitivo. Enquanto na esfera social e moral as empresas percebem que a contratação de pessoas mais diversas ajuda a empresa a cumprir o seu papel na sociedade, cada vez mais o mercado demonstra que sem diversidade as empresas não são competitivas.
Na CamiNews deste mês de setembro, eu trouxe alguns cases recentes relacionados à diversidade, vem conferir! Afinal, é setembro verde, bebê!
01. Língua indígena de sinais
O município de Miranda, no estado de Mato Grosso do Sul, é o primeiro do Brasil a oficializar uma língua indígena de sinais. A língua Terena de Sinais começou há cerca de 30 anos na aldeia indígena Cachoeirinha na casa de Ondina Antônio Miguel (foto). Mãe de sete filhos, sendo três surdos, ela precisou desenvolver essa nova língua para poder integrar a família e criar laços por meio da comunicação.
Considerado um marco linguístico brasileiro, os gestos usados por uma família para se comunicar foram reconhecidos por uma lei municipal, tornando-se a primeira língua indígena de sinais oficialmente reconhecida no Brasil. Linguistas comprovaram cientificamente que ela é diferente da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
“O Brasil possui uma rica diversidade linguística. São mais de 200 línguas de povos originários, mais as línguas de migrantes, de migração e as línguas de contato nas fronteiras. Existem indígenas surdos no Xingu, no Acre, no Amazonas, na Bahia, mas eles ainda não têm esse reconhecimento que estão tendo aqui”, destaca a linguista Denise Silva.
A nova língua de sinais está em processo para ser reconhecida como língua de instrução para que possa ser usada nas salas de aula da aldeia.
Confira a reportagem logo abaixo na sessão das “Dicas imperdíveis que você pode perder”.
02. Homofobia e transfobia serão punidos como injúria racial
Foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal que atos de homofobia e transfobia contra indivíduos sejam enquadrados como crime de injúria racial. Na prática, quem for responsável por atos desta natureza não terá direito a fiança, nem limite de tempo para responder judicialmente.
Os ministros analisaram uma ação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos. A associação argumentou que a equiparação era necessária para assegurar a proteção ao indivíduo porque algumas instâncias da justiça resistiam em reconhecer a homofobia e a transfobia em casos individuais de ofensa contra a honra e as tratavam como uma forma de injúria sem agravante de preconceito. Assim, crimes desta natureza poderão ser punidos de forma mais severa.
“Um grande avanço. Eu diria que ela complementa aquele avanço que tivemos anteriormente da inclusão da lgbtfobia dentro do gênero racismo e agora em uma situação que a gente sabe que é muito cotidiana. Essa decisão nos ajuda a combater o discurso de ódio. É importante que a gente reconheça isso e a gente saúda a decisão nesse sentido”, diz Paulo Mariante, advogado da ABGLT.
Confira reportagem e a nota oficial do STF sobre o tema no “Dicas imperdíveis que você pode perder”.
03. Pela primeira vez um PCD foi ganhador do programa No Limite
No mês de agosto o reality show No Limite, da Rede Globo, chegou ao fim e pela primeira vez o ganhador foi uma pessoa com deficiência, o Dedé.
André Macedo, conhecido como Dedé, é natural de Valinhos, interior de São Paulo. Ele nasceu com uma má-formação e teve um dos pés amputados aos dois anos de idade. O paratleta começou a participar de competições aos 14 anos também com atletas não deficientes. André conquistou o sexto lugar no Campeonato Mundial de Paratriathlon em 2014 e é faixa preta de jiu-jitsu. Atualmente, com 45 anos, ele pratica o paraciclismo. Sobre a vitória, ele diz:
“Muitas pessoas desacreditaram e acharam que eu seria eliminado muito antes da final, porque muita gente que é usuário de prótese sabe que é muito difícil. Eu sou atleta para mostrar para as pessoas que é possível. Se deixar a deficiência derrotar você, as pessoas não vão te enxergar”.
Vale ressaltar que o atual apresentador da atração também é um atleta paralímpico. Fernando Fernandes comanda a atração desde 2022 e foi o inventor da paracanoagem. Em entrevista à revista GQ ele disse:
“Fui pioneiro na canoagem para cadeirantes no Brasil. Tive que criar formas de remar para uma pessoa com deficiência e, a partir daí, o esporte entrou para o ciclo paralímpico. Eu consegui um patrocínio de uma empresa portuguesa, que foi a primeira a abrir as portas para mim, e a gente desenvolveu um barco e um método de remar sentado”.
04. Nova princesa da Disney é negra e latina
A Disney continua avançando na promoção da diversidade em suas produções. O estúdio está atualmente empenhado no lançamento de “Wish: O Poder dos Desejos”, um filme que introduzirá a nova princesa Asha, uma jovem perspicaz de 17 anos, que é negra e latina.
A voz da princesa Asha será interpretada por Ariana DeBose, atriz vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2022. Sua representação dará vida à primeira princesa afro-latina da Disney. Esta nova adição ao universo da Disney reafirma o compromisso do estúdio em celebrar a diversidade em todas as suas formas.
Meu pitaco:
Escrever sobre diversidade é sempre desafiador porque são muitas camadas possíveis. Por isso, minha dica aqui é você escolher um ou dois temas destes para acompanhar e eventualmente ser um apoiador da causa.
Por exemplo, eu tenho ascendência negra por parte da minha família materna e acompanho de perto a pauta anti racista. É algo que conversa com a minha ancestralidade e me faz bem apesar de eu não ser uma especialista no assunto. Tenho um amigo que agencia muitos criadores de conteúdo PCD (pessoas com deficiência) e estou sempre de olho para aprender já que no meu dia a dia não convivo com ninguém PCD. E meu intuito é ouvir o que essas pessoas passam no cotidiano que eu nunca pensei sobre.
Uma pauta que ainda vejo pouca visibilidade é o etarismo, ou seja, o preconceito com as pessoas mais velhas no dia a dia, mercado de trabalho, relações amorosas, liderança, etc. É um assunto fundamental, mas com ainda pouco destaque.
Talvez você não tenha nenhum destes assuntos para reivindicar, mas quem sabe alguns deles não reverberam nos seus amigos? Vizinhos? Familiares? Não é sobre ser especialista ou militante, mas sobre se interessar sobre um assunto específico e acompanhar o que vem sendo feito.
E lembre-se: O mês de setembro é dedicado às pessoas com deficiência (PcD) e procura conscientizar a população sobre a importância da inclusão com o Setembro Verde. A campanha teve início em 2015 e foi instituída pela Federação Nacional das Apaes do Estado de São Paulo, em parceria com a Apae de Valinhos (SP). A data faz alusão ao Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, coincidindo com o Dia da Árvore que traz a cor verde, representando a esperança de dias melhores.
Dicas imperdíveis que você pode perder!
- Trailer Wish: O poder dos desejos
- Reportagem: Língua Indígena de Sinais
- Reportagem: Crimes de homofobia e transfobia são punidos como crimes de injúria racial
- Notícia: STF equipara ofensas contra pessoas LGBTQIAPN+ a crime de injúria racial
- Instagram André Macedo: @paraatleta
- Instagram Fernando Fernandes: @fernandolife