Edição 29 – Tendências do Consumidor 2024: Tecnologia, Intencionalidade e Sustentabilidade

Quem é do mercado de pesquisa e tendências sabe que chegamos na época do ano em que todos os reports estão sendo lançados! Se você ainda não conferiu nenhum, não se preocupe, pois nessa edição da CamiNews eu trouxe algumas das principais tendências do consumidor identificadas pela Mintel, uma das principais agências de insights sobre o consumidor do mundo. 

Essas transformações no mercado e nos desejos do consumidor estão intimamente ligadas às mudanças que passamos nos últimos anos, muitas delas impactadas pela pandemia do Covid-19. 

Você vai notar que as tendências listadas já estão presentes em nossa rotina e a perspectiva é que se intensifiquem ainda mais daqui pra frente. 

Simbora!

01. O desafio de manter características humanas no digital

Nos últimos anos ocorreram enormes avanços relacionados à IA que tornaram nossas vidas mais fáceis pensando em como diminuir a fricção entre as interfaces tecnológicas e o nosso uso no dia a dia. Isso permite que gastemos menos tempos com tarefas consideradas mecânicas para que sobre mais tempo para tarefas que consideramos mais importantes. 

Porém, um dos desafios das empresas e dos consumidores é balancear o uso dessas tecnologias para não perder o fator humano:  emoções, empatia, criatividade e o desejo de conexão. Um exemplo clássico é o tal do cardápio em QRCode. A princípio, ele foi imposto por uma questão de facilitação da operação de casas de comida; economia de papel, plástico; questões higiênicas. Mas, é o famoso caso que ninguém gosta. A maioria das pessoas tem uma relação afetiva com o cardápio físico. 

Por isso, para encontrar o equilíbrio, o mercado tem buscado (e continuará buscando cada vez mais) elementos humanos para contrastar com os algoritmos cada vez mais presentes. Outro exemplo clássico é o menu padrão de SAC que faz de tudo para não interagirmos com atendentes humanos quando tudo o que queremos é explicar a especificidade do nosso caso que, quase nunca, cabe nas opções do menu principal. 

A perspectiva é gerar uma duplicidade no consumidor, enquanto temos um perfil mais aberto, que vai incorporar essa tecnologia usando-a cada vez mais intencionalmente em seu dia-a-dia, o outro será um perfil mais nostálgico, que sente falta de como as coisas eram antes. Até mesmo os mais jovens, que já nasceram e cresceram na era da tecnologia. E nesses casos, será preciso que desenvolvam soft-skills básicas de interação humana. 

Com isso, os consumidores precisarão de um tempo para se ajustar e aprender como aplicar a tecnologia em sua vida a nível individual, dosando-a de forma intencional a ponto de balancear as conexões físicas e digitais. Ou seja, o que as marcas estão fazendo para agradar os públicos mais inclinados ao digital e os mais inclinados ao interacional? 

Como as marcas estão aplicando essa tendência:

Banco digital na Argentina convidou empreendedores para usar a Inteligência Artificial e o aplicativo “Mi Negocio” para criar a representação da sua loja dos sonhos e o banco produziu a representação digital de graça.
A Start-up Dinamarquesa “Be My Eyes” incorporou o OpenAi GPT-4 em seu aplicativo para criar uma assistente virtual visual para pessoas cegas ou de baixa visão que pode gerar palavras a partir de imagens.
Rede de supermercado holandesa criou caixas de supermercado para pessoas idosas que querem conversar e não tem pressa para passar os itens.

02. Muito mais que dinheiro

Tradicionalmente, “valor” é definido como a relação entre a qualidade recebida e o preço pago em uma compra. E, normalmente, as marcas controlam o lado “preço” dessa equação, alegando entregar uma melhor qualidade.

Porém, cada vez mais, os consumidores estão compreendendo o que de fato significa a “qualidade” de um produto ou serviço para si mesmo.

Atributos como: sustentabilidade, conveniência e patrimônio passam a ser fatores importantes sobre os quais as marcas deveriam pensar como ativos da qualidade de seu produto ou serviço, contribuindo diretamente para a percepção do consumidor.

Tem sido mais frequente marcas que vendem um lifestyle ao invés de simplesmente um produto ou serviço, com isso, os consumidores estão se tornando fiéis a essas marcas que representam os valores que acreditam (e também abandonando as que não representam).

Ou seja, as compras estão cada vez mais intencionais, o valor social e emocional das marcas terão um peso ainda maior para o consumidor que está buscando aquela que faz mais sentido para si.

E para que os consumidores entendam e se familiarizem com suas identidades e gostos, eles esperam que as marcas exibam o mesmo esforço, de forma lúdica, honesta e vulnerável. 

Como as marcas estão aplicando essa tendência:

A marca de fragrância de luxo brasileira, Felisa, está enraizada em sustentabilidade, produzindo produtos veganos e cruelty-free, formulados com ingredientes naturais.
A cooperativa francesa Ethikis desenvolveu o rótulo “Longtime”, um selo de qualidade para ajudar os consumidores a identificar a durabilidade dos produtos.
@ziorva (IG) 
Marca de jóias inglesa que utiliza somente ouro e prata reciclados; diamantes que tem certificação internacional de áreas sem conflito; gemas escolhidas a mão, embalagem de presente com certificação FSC.

03. A nova realidade sustentável

Incorporar a sustentabilidade na rotina não é mais suficiente, agora tanto as marcas, quanto os consumidores precisam encarar uma nova realidade: a das mudanças climáticas permanentes (falamos um pouco sobre esse tema na edição passada). E esse contexto precisa ser uma prioridade daqui pra frente.

Os consumidores entenderam que ações passivas não contribuem para a crise pela qual estamos passando e que a sustentabilidade se tornou um elemento essencial para a nossa sobrevivência, com isso, as marcas agora precisam assumir um papel mais incisivo, se afastando de estratégias tradicionais e investindo em ações inovadoras, ultrapassando os limites do que é possível e necessário.

O desejo agora é ver menos de “estamos reduzindo nossa pegada de carbono” e mais de “estamos regenerando e devolvendo para o meio-ambiente”. 

Para ficar à frente de seus concorrentes, as marcas precisam rever suas projeções de longo prazo e demonstrar um progresso significativo e mensurável em seus objetivos sustentáveis, fazendo alterações rapidamente com base nas  circunstâncias das mudanças.

Como as marcas estão aplicando essa tendência:

Para o dia da mentira em 2023, a marca norte-americana de roupas femininas, Cuyana, lançou a coleção de roupas fictícias nomeada “Made with Air” (Feita com Ar), a qual afirmava não ter nenhum impacto negativo para o meio ambiente. Com um tom sarcástico, foi uma maneira de chamar atenção para as marcas que realizam greenwash através de diversas reivindicações ambientais.
Como parte da nova Certificação de Recursos Recicláveis, o Ministério do Meio Ambiente da Coréia do Sul reconheceu a torra de café do Starbucks coreano como um recurso com alto potencial de reciclagem, baseado em sua versatilidade e baixo impacto ambiental.
Méqui Sustentabilidade – Paraíso, SP capital

“Esse restaurante tangibiliza e comunica a visão que conduz o nosso negócio e nossa estratégia ESG, Receita do Futuro. Nele, aplicamos tudo o que desenvolvemos nos últimos anos e agregamos inovações sustentáveis que serão referência para nós, para o setor e para os consumidores daqui adiante. Essa inauguração representa o momento mais importante do nosso histórico de expansão desde a modernização dos restaurantes.”

Rogério Barreira, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados, operadora da rede McDonald’s na América Latina e no Caribe.

Meu pitaco:

Quando eu comecei a trabalhar com relatórios de estudos de tendência, lá pelos idos de 2011, eu ficava chocada como tudo o que eu lia era diametralmente oposto ao que eu via na realidade brasileira. Mas, eu sempre achava que era porque quem criava esses estudos eram institutos com sede na Itália, França, Espanha, Reino Unido, etc. Os tempos passaram, temos bons relatórios produzidos por entidades brasileiras, mas os internacionais prevalecem. Com isso, até hoje existe uma certa briga entre quem é a favor desses relatórios e quem acredita que eles precisam ser tropicalizados. 

Como você pode notar diferentemente do que víamos antigamente com tendências mais mirabolantes e difíceis de serem percebidas na prática, atualmente os relatórios de tendência estão trabalhando questões mais fáceis de notarmos, porém com necessidade de aprofundamento.

O ponto alto aqui são os exemplos que tentei garimpar e não as tendências em si porque elas já estão na ordem do nosso dia. Em dezembro, quero trazer tendências menos óbvias e mais nichadas de países ou áreas diferentes do Brasil para abrirmos um pouco a cabeça. Mas, vamos ver se consigo algo legal sobre isso. 

Até lá! 

Dicas imperdíveis que você pode perder!

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